Nomenclatura das Quadras

 

Maio 14, 2015

 

O Diretório Central dos Estudantes (DCE) - Gestão Ciranda, visando fomentar o debate e a reflexão sobre temas de extrema importância para a nossa sociedade, batizou as 3 quadras onde serão realizados os Jogos Universitários 2015 da Univasf com nomes de figuras que representam causas que têm datas comemorativas no mês de maio.

 

 

• QUADRA NEGRA ZEFERINA

 

 

Em virtude de no dia 13 de maio ser comemorada a Abolição da Escravatura no Brasil, fato que deve ser questionado, pois as ex-escravas e os ex-escravos se tornaram livres perante a lei, mas não tiveram assegurados os direitos que garantissem a sua aceitação na sociedade, o que implicou em dias difíceis, mesmo após a abolição da escravatura, para os libertos, uma das quadras recebeu o nome da Negra Zeferina.

 

 

Zeferina era uma das lideranças do Quilombo do Urubu, onde havia um candomblé de nagô. Nesse Quilombo, embora se vivessem em paz, era alimentado um intenso rancor com relação aos senhores de escravos, devido ao sentimento de insegurança. Com o crescimento da Cidade do Salvador, diversas pessoas ocuparam terras da vizinhança e tiraram a privacidade do quilombo, o que gerou uma revolta, iniciada em 17 de dezembro de 1826, depois que lavradores flagraram negros roubando farinha de mandioca e carne seca para o Quilombo.

 

 

Essa revolta foi planejada nas Matas das Cajazeiras por negros que temiam ser denunciados pelos lavradores. A partir daí, os quilombolas continuaram assaltando as casas das redondezas e levando os produtos para o Urubu. Quando os capitães-do-mato tentaram surpreender os negros, cerca de 50 negros e algumas mulheres, gritando "Morra Branco e Viva Negro", enfretavam os soldados, com destaque para Zeferina que os atacava com arco e flecha.

 

 

Alguns capitães-do-mato morraram e outros fugiram e se encontraram com soldados da polícia que foram sufocar a revolta. As forças do governo fizeram prisioneiros e mataram 3 homens e 1 mulher, sendo que o restante dos quilombolas se refugiaram nas matas. Zeferina enfrentou bravamente as forças policiais além de encorajar os seus guerreiros, tendo sido presa com muita dificuldade pela milícia de Pirajá.Sufocada a revolta do Urubu, Zeferina foi humilhada, amarrada e desfilou dessa maneira até a Praça da Sé, com requintes de ódio e racismo por parte da população branca. Segundo declarações da própria Zeferina, a intenção real dos quilombolas era aguardar na véspera de Natal, a chegada de mais escravos provenientes de Salvador para se reunirem no Urubu com o intuito de atacarem a cidade matando todos os brancos e adquirirem com isso a liberdade de todos os negros. Mas essa revolta foi abreviada após o episódio do flagrante da noite do dia 16.

 

 

• QUADRA ARACELI CABRERA

 

 

18 de maio é o dia de Combata ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes. A data foi instituída em 2000, devido ao assassinato de Araceli, que desapareceu em 18 de maio de 1973. O seu pai saiu a sua procura, mas não a encontrou, acionando a polícia e divulgando retratos da filha, com esperança de que fosse somente um desaparecimento. Após 6 dias, um rapaz achou um corpo irreconhecível, pois para dificultar o reconhecimento da vítima, jogaram ácido. 

 

 

Araceli foi espancada, dopada, estuprada, estrangulada e segundo a perícia "morta numa orgia de sexo e drogas. Em agosto de 1977, o juiz Hilton Sily determinou a prisão de Dante de Brito e Paulo Constanteen Helal, pelo assassinato, e Dante Barros, acusado de tumultuar o inquérito para livrar o filho. Em outubro do mesmo ano receberam habeas corpus. Em 1980 foram condenados, mas a sentença foi anulada. Em novo julgamento, em 1991, os réus foram absolvidos.

 

 

O caso Ariceli é uma ferida que nunca cicatrizou completamente. De acordo com José Louzeiro, autor do livro "Aracelli, Meu Amor", o caso produziu 14 mortes, desde possíveis testemunhas até possíveis pessoas interessadas em desvendar o crime.

 

 

• QUADRA ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO

 

 

O dia 18 de maio marca a comemoração do movimento da Luta Antimanicomial no Brasil, que desde os anos 1980 vem incluindo usuários, trabalhadores e familiares, na luta para impulsionar e fazer acontecer a Reforma Psiquiátrica brasileira.

 

Arthur Bispo do Rosário, grande figura na luta antimanicomial, nasceu em 1909 em Sergipe, trabalhou na Marinha do Brasil e na Companhia de Eletricidade Light. Viveu por mais de quarenta anos como interno da Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, Rio de Janeiro, diagnosticado como esquizofrênico. Sua obra surpreendente foi descoberta no início dos anos 80 e ganhou repercussão internacional.

 

Os trabalhos de Bispo diversificam-se entre justaposições de objetos e bordados. Nos primeiros, utiliza geralmente utensílios do cotidiano da Colônia, como canecas de alumínio, botões, colheres, madeira de caixas de fruta, garrafas de plástico, calçados; e materiais comprados por ele ou pessoas amigas. Para os bordados usa os tecidos disponíveis, como lençóis ou roupas, e consegue os fios desfiando o uniforme azul de interno. Prepara, com seus trabalhos, uma espécie de inventário do mundo para o dia do Juízo Final. Nesse dia se apresentaria a Deus, com um manto especial, como representante dos homens e das coisas existentes. O manto bordado traz o nome das pessoas conhecidas, para não se esquecer de interceder junto a Deus por elas. Bispo faz também estandartes, fardões, faixas de miss, fichários, entre outros, nos quais borda desenhos, nomes de pessoas e lugares, frases com respeito a notícias de jornal ou episódios bíblicos, reunindo-os em uma espécie de cartografia. A criação das peças, para ele, é uma tarefa imposta por vozes que dizia ouvir.

 

No início da década de 1980, com as questões levantadas pela arte contemporânea com a antipsiquiatria e as novas teorias sobre a loucura, os trabalhos de Bispo começam a ser valorizados e integrados ao circuito de arte.

 

Em 1995, com uma vasta seleção de peças, Bispo representa o Brasil na Bienal de Veneza e obtém reconhecimento internacional. Sua obra torna-se uma das referências para as gerações de artistas brasileiros dos anos 1980 e 1990.